domingo, 30 de junho de 2013

Wanasema e Fliafro (A Nação)

Wanasema e Fliafro
Ricardo Riso
Resenha publicada no semanário cabo-verdiano A Nação, n. 249, de 7 de junho de 2012, p. E5
A virada de maio para junho deste ano rendeu boas discussões a respeito das relações literatura negro-brasileira e literaturas africanas de língua portuguesa no Rio de Janeiro, durante o evento 1º Wanasema – Festival Internacional de Diálogos Artístico-Interculturais – encontro da literatura negro-brasileira com a literatura moçambicana, e em Belo Horizonte com a FLIAFRO 2012 – Festa Literária de Expressões Indígenas, Africanas e Afro-brasileiras, com o tema Leitura, Diversidade e Sustentabilidade Social.

O Wanasema é um evento com idealização minha e da Drª Fernanda Felisberto (Kitabu Livraria Negra) e tem como principal objetivo estabelecer a aproximação das manifestações artísticas da cultura negro-brasileira com os países africanos e demais países da diáspora africana, tendo a literatura como o principal interlocutor dessas relações. Com a fundamental parceria do Renascença Clube, com o pronto atendimento de seu presidente, Sr. José Evangelista de Oliveira, o empenho da Srª Edilea Sylvério e da Srª Nanci Rosa, VP do Departamento Cultural e Artístico do clube, e patrocínio do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos do Negro-COMDEDINE, o Wanasema aconteceu no dia 23 de maio.

Pela primeira vez em comitiva para um evento literário, a nova geração de escritores moçambicanos foi representada por Aurélio Furdela, Lucílio Manjate e Sangare Okapi; enquanto do Brasil marcaram presença os escritores Éle Semog e Helena Theodoro, e o Dr. Henrique Freitas (UFBA) e a Drª Iris Amâncio (UFF/RJ e da Nandyala – Livraria e Editora). Com duas mesas, uma sobre prosa e outra, poesia, as mediações ficaram a cargo da Drª Fernanda Felisberto e deste que aqui escreve, respectivamente. As restrições do mercado editorial hegemônico, a cansativa repetição de autores afro-lusos publicados e alternativas para inserir escritores negros africanos no mercado brasileiro, além do papel da lei 10.639/2003, que obriga o ensino da cultura, história e literaturas africanas e afro-brasileiro em toda a educação básica brasileira, e as relações entre Brasil e Moçambique foram alguns dos pontos abordados pelos palestrantes obtendo excelente retorno do público participante, que lotou a quadra do clube.

A FLIAFRO 2012 é uma festa organizada pela Nandyala Livraria e Editora, e teve mais de 70 palestrantes entre brasileiros e estrangeiros. Nesta edição, os escritores Pedro Matos e Vera Duarte representaram Cabo Verde, sendo que ambos constam no catálogo da editora, Matos com o livro de poesia “Midju de Fogo”, e Duarte lançou durante a festa o premiado romance “A Candidata”, a sua estreia no mercado brasileiro. Os dois integraram a mesa “Literatura Afro-Brasileira e Literaturas Africanas: diálogos e desafios” ao lado dos escritores Waldemar Euzébio, Aldrei Anunciação, Lia Vieira, Miriam Alves, Conceição Evaristo e Cacique Kaun Poty. O bate-papo foi coordenado pelo são-tomense Abdelasay de Sousa (Rádio UFMG) e participei como debatedor.

Devido ao espaço restrito, mencionarei somente a participação dos cabo-verdianos. Vera Duarte abordou a relação Brasil-Cabo Verde em três momentos assim determinados por ela: 1º a dor, os escravos vindos de Cabo Verde para o Brasil; 2º a assimilação, o modernismo brasileiro revolucionando a literatura cabo-verdiana; e 3º o amor, a relação mútua de aproximação cultural Brasil-Cabo Verde na contemporaneidade. Ao final de sua explanação, a autora recebeu aplausos calorosos do público. Já Pedro Matos, também bastante aplaudido, falou do desafio de escrever de uma forma simples e com cuidado estético para o público infanto-juvenil brasileiro a partir de aspectos culturais de Cabo Verde até então desconhecidos, e a preocupação de resgatar as memórias já dispersas da vida rural da Ilha do Fogo.


Imensa é a satisfação de acompanhar os laços culturais cada vez mais fortes entre Brasil, Cabo Verde e países africanos. Na terça, 5 de junho, tem mais: o lançamento de “A Candidata”, de Vera Duarte, na Kitabu Livraria Negra, no Rio de Janeiro.

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