sábado, 27 de junho de 2009

José Luiz Tavares - Cidade do Mais Antigo Nome (Excertos)

CIDADE DO MAIS ANTIGO NOME (EXCERTOS)

13.

Não pediste o alimento ínvio
nos íngremes dias de infância,
nem o peso do pó regateaste
pelo lento entardecer dos anos,
embora setembro nas alturas
seja tanta luz a apascentar o verde.

Altas vozes te nomearam
impávido cordeiro do sacrifício,
mas sei que eras apenas essa criança
sobressaltada quando no horizonte
surdem velas corsárias e o céu se
despenha da rota algibeira de deus.

Por isso este abismo cavado
à flor da tua fala mansa, e as luzes
que trazes nos cabelos pulsando
como um anoitecido rebanho de estrelas.

Estes desgrenhados versos que te ofereço
agora são o viático da desforra
nos enrouquecidos pulmões da história:
tudo cabe na garganta do tempo
ou à ilharga desse sol pernalta
pastoreando as mudáveis coisas do mundo.



44.

Quanto vento arremessou a poeira
da tua solidão? Que preces se calaram
nas bocas escorchadas dos mortos?
E no entanto, donairosa envelhece a tarde
agora que os seus fulvos calcanhares
singram as várzeas derradeiras.

Demo-nos um novo começo na voz
áspera das ribeiras, nas madrugadas
de conjuras, nos tropeços destes versos
que não pedem meças às aves alquebradas
pelos langores doutros céus.

Antes do verbo já eras carne,
e corpo de rapina mercadejado no pelourinho
onde vinham bater, na voz dos negros arfando,
já não o sol das áfricas, lêveda lembrança da pátria
ancestral, mas a imorredoura noite da alma,
abismos animados pela fêvera voz do terror.

Sem a altivez dos cantadores de vozes felinas,
sou um pedinte desabrigado nos embolorados
pátios da história. E nada me pesa mais
que o olhar falcoeiro que te deitam
desde os rapaces gabinetes de fomento.



47.

Como lembrança que se insinua
na flora acesa do crepúsculo
com a alada gravidade
de um pueril deslumbramento
retrato do olvido
canção sem nome

eis-te à esquina triste do poema
branco fantasma tumultuando
a vigília nos empardecidos
pátios da história

de novo me dirás a áspera ternura
irmã da ira ou tão só a escura cinza
dos presságios trespasse dos delírios
urdidos sem paixão nem fúria

que esquecer que não seja
o que fica além do verso
oculto tremor celeste desalinho
inacessível às palavras incensárias
que um dia segredaram
com suspeitosa mansidão
um nevado país a insinuar-se
no rasto obstinado das cassiopeias
agora campo vedado
aos toldados vaticínios do futuro?



80.

«Então erguemos uma morada
junto à costa bonançosa,
sob um teto de altas nuvens»o
concluiu a voz,

«e à terra demos o nome de ribeira
grande, por mor das tumultuosas águas
que por ela descem caminho do mar.

E cumpriu-se então, aqui, nossa sina
obscura, tecida pelas inextricáveis linhas
com que se inventa uma pátria.»

E se agora te nomeio, ó senhora da melancolia,
com os rasos signos da poesia,
é porque nela vivo para a futura morte
de tantos dedos, tal essa magnificente mulher
voltejando nos soberanos pátios duma ilha
onde pulsa o calado fulgor do antigo amado rosto.


JOSÉ LUIZ TAVARES


Fonte: e-mail enviado pelo poeta às 13h54, dia 26 de junho de 2009.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

José Eduardo Agualusa - Barroco Tropical (livro)


BARROCO TROPICAL
de José Eduardo Agualusa

Uma mulher cai do céu durante uma tempestade tropical. As únicas testemunhas do acontecimento são Bartolomeu Falcato, escritor e cineasta, e a sua amante, Kianda, cantora com uma carreira internacional de grande sucesso. Bartolomeu esforça-se por desvendar o mistério enquanto ao seu redor tudo parece ruir. Depressa compreende que ele será a próxima vítima. Um traficante de armas em busca do poder total, um curandeiro ambicioso, um antigo terrorista das Brigadas Vermelhas, um ex-sapador cego, que esconde a ausência de rosto atrás de uma máscara do Rato Mickey, um jovem pintor autista, um anjo negro (ou a sua sombra) e dezenas de outros personagens cruzam-se com Bartolomeu, entre um crepúsculo e o seguinte, nas ruas de uma cidade em convulsão: Luanda, 2020.

http://www.youtube.com/watch?v=Z7Q7bsov-I8

http://www.agualusa.info/


ISBN: 978-972-20-3822-5
Páginas: 344
Dimensões: 15,5 x 23,5 cm

Colecção: Autores de Língua Portuguesa

Ano de Edição: 2009
Encadernação: Brochado

Preço com IVA: 16.65 €
Preço sem IVA: 15.86 €

Fonte: http://www.dquixote.pt/novidades.html?page=1&q=

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Paula Tavares e o mercado editorial brasileiro

Prezados,

delicio-me com os belos poemas do Manual para Amantes Desesperados (Lisboa: Caminho, 2007), da angolana Paula Tavares. Penso que Paula Tavares é o nome mais consistente da poesia de autoria feminina dos países africanos de língua portuguesa, sendo objeto de pesquisa em várias teses e dissertações de nossas principais universidades. Não compreendo que o mercado editorial brasileiro ainda não tenha publicado qualquer livro desta poetisa. Uma pena!

O que podemos fazer para que Paula Tavares e outros nomes, ainda inéditos, das literaturas africanas de língua portuguesa sejam publicados aqui no Brasil?

Ricardo Riso

domingo, 21 de junho de 2009


Prezados,

Conheça o Cadernos África e Africanidades 3: Memória, Tradição e Oralidade, organizado por Nágila Oliveira dos Santos e André dos Santos Silva, leva o leitor a uma viagem pelos caminhos da música, da dança, da oralidade e do corpo africanos e afro-brasileiros.

Abraços,
Ricardo Riso

Ondjaki - Avódezanove e o segredo soviético (lançamento do livro - RJ)


O novo livro de Ondjaki, Avódezanove e o segredo soviético, terá noite de autógrafos na quinta-feira - dia 25/06, na Livraria Travessa Shopping Leblon - Av. Afranio de Melo Franco, 290 - Leblon - Rio de Janeiro/RJ.


Fonte: maillist da Livraria Travessa, dia 20/06/2009.

"O Reino do outro mundo- Orixás” (espetáculo de dança)

2ª Temporada do "O Reino do outro mundo- Orixás”

Temporada de 11/06 à 09/08
Local: Casa Alto Lapa Santa ( na mata)
Rua Joaquim Murtinho- 654, Santa Teresa
5ª a domingo sempre as 20:00hs

Ingressos: R$ 20,00 (inteira) - R$ 10,00 (meia-entrada)
Duração do espetáculo: 75 minutos

O Reino do outro mundo – Orixás (Ficha Técnica)

Coreografias – (por ordem alfabética)
Elvio Assunção - Luís Monteiro – Rubens Barbot – Rubens Rocha – Valéria Monã
Direção Geral – Gatto Larsen
Iluminação – César de Ramires
Percussão: Jô Ventura
Trilha Sonora – Marcelo Maldonado
Programação Gráfica – Maria Júlia Ferreira
Fotografias – Vantoen Pereira Jr e Mariam Starosta
Pesquisa e consultoria – Paulo Husek
Figurinos – Rubens Barbot – Paulo Husek – Gatto Larsen
Divulgação: (Colaboração) Naira Fernandes
Assessoría de Imprensa – Target Assessoria de Comunicação

Elenco - Componentes da companhia (por ordem alfabética)
Ana Paula Dias – Carlos Maia – Rubens Barbot – Sara Hana Wilson de Assis – Wilian Santiago

Bailarinos Convidados
Fernando do Valle - Hugo Luís Gonçalves - Márcia Paulino – Ulysses Oliveira

Xirê do Espetáculo

Exu - Ogum - Oxossi - Ossain - Omolu - Oxumaré - Oxum -Iansã -Yemanjá - Xangô - Oxaguiã - Oxalá

Informações: 21 2220-5458/9144-8624
e-mail: dancarb@ig.com.br
http://ciarubensbarbotteatrodedanca.blogspot.com/

Fonte: contribuição por e-mail da minha amiga Denise Guerra, no dia 20/06/2009

sexta-feira, 19 de junho de 2009

FESTLIP – Festival de Teatro da Língua Portuguesa - 2009 (programação atualizada 21/06/2009)

O Festlip – Festival de Teatro da Língua Portuguesa – 2009 (http://www.festlip.com/) acontecerá entre os dias 2 e 12 de julho na cidade do Rio de Janeiro. Na sua segunda edição homenageará o escritor moçambicano Mia Couto, que ministrará palestra no dia 3 de julho com o tema ‘Metamorfose da literatura para o teatro’. Além das companhias teatrais de Brasil, Angola, Portugal, Cabo Verde, Moçambique e Guiné-Bissau, o evento contará com Mostra Gourmet, oficinas teatrais, debates e dois dias de shows no bairro da Lapa. A programação é gratuita com distribuição de senhas, exceto a mostra gourmet, os teatros são o Sesc Ginástico, o Espaço Sesc/Copacabana e o Sesc/Tijuca.
Ricardo Riso

Programação por dia – Festlip – Festival de Teatro da Língua Portuguesa - 2009

Toda a programação – com exceção da Mostra Gourmet – tem entrada franca, com distribuição de senhas até 30 minutos antes do início da sessão. No teatro Sesc Ginástico, as senhas serão distribuídas 60 minutos antes do início da sessão.

De 2 a 31 de julho:

Mostra Gourmet – O sabor da Língua Portuguesa
Restaurante 00 Cozinha Contemporânea – Pratos especialmente criados pelo chef do restaurante, Ray Cardoso, inspirado na cultura e culinária dos países participantes do Festlip.

2 de julho (quinta-feira)

Abertura oficial do FESTLIP
19h - Teatro Sesc Ginástico
Grupo Tijac, de Moçambique, com o espetáculo “Mar me Quer”, baseado na obra de Mia Couto. Apresentação para convidados.
Entrega do Troféu Festlip - 2009 em homenagem ao premiado escritor moçambicano Mia Couto.

3 de julho (sexta-feira)
19h – Teatro Sesc Ginástico. Palestra com Mia Couto: ‘Metamorfose da literatura para o teatro’
20h – Teatro Sesc Tijuca. Peça: ‘Sobreviver no Tarrafal’, com o Grupo de Teatro Horizonte Nzinga Bandi (Angola- Luanda)
21h – Espaço Sesc – Teatro Arena. Peça: ‘Uma solidão demasiado ruidosa’, com a Cia Teatral Artistas Unidos (Portugal - Lisboa)
21h30 – Espaço Sesc – Mezanino. Peça: ‘Complexo sistema de enfraquecimento da sensibilidade’, com Cia de Teatro Antro Exposto (Brasil- São Paulo)

4 de julho (sábado)
19h – Teatro Sesc Ginástico. Peça: ‘Lindos dias’, com a Cia. Teatral Primeiros Sintomas (Portugal - Lisboa)
20h – Teatro Sesc Tijuca. Peça: ‘Psycho’, com a Companhia de Teatro Solaris (Cabo Verde - Cidade de Mindelo)
21h – Espaço Sesc – Teatro Arena. Peça: ‘Kimpa Vita - A Profetisa Ardente’, com o Grupo Elinga-Teatro (Angola - Luanda)
21h30 – Espaço Sesc – Mezanino. Peça: ‘O Homem ideal’, com o Grupo M'Bêu (Moçambique - Maputo)
22h – Estrela da Lapa. Festlipshow - Fidjus de Cabo Verde (Cabo Verde), Mario Lucio (Cabo Verde), Abel Duerê (Angola), Bongar – Coco da Xambá (Brasil) e DJ Falcão (Angola).

5 de julho (domingo)
19h – Teatro Sesc Ginástico. Peça: ‘Cortiços - Cia de Teatro Luna Lunera’ (Brasil – Belo Horizonte)
19h30 – Espaço Sesc – Teatro Arena. Peça: ‘No Inferno’, com o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português de Mindelo (Cabo Verde – Cidade de Mindelo)
20h – Espaço Sesc – Mezanino. Peça: ‘Nó mama - Frutos da Mesma Arvore’, com o GTO
(Guiné Bissau - Bissau)
20h – Teatro Sesc Tijuca. Peça: ‘Mar me quer’, com o Grupo Teatral Tijac (Moçambique – Maputo com Ilha da Reunião)

6 de julho (segunda)
13h às 18h – Espaço Sesc – Teatro Arena. Oficina teatral com diretor Miguel Seabra, do Teatro Meridional (Portugal)

7 de julho (terça)
13h às 18h – Espaço Sesc – Teatro Arena. Oficina teatral com diretor Miguel Seabra, do Teatro Meridional – (Portugal)
20h – Espaço Sesc – Teatro Arena. Mesa ‘Encenação do Teatro da Língua Portuguesa’, com os diretores participantes e mediação de Tania Brandão

8 de julho (quarta)
13h às 18h – Espaço Sesc – Teatro Arena. Oficina teatral com diretor Miguel Seabra, do Teatro Meridional (Portugal)
19h – Espaço Sesc – Teatro Arena. Vitrine do Teatro Carioca no Corredor Cultural da Lapa – Grupos convidados: Tá Na Rua, Teatro do Anônimo e Cia dos Atores.

9 de julho (quinta)
19h – Teatro Sesc Ginástico. Peça: ‘Cortiços, com a Cia de Teatro Luna Lunera (Brasil)
20h – Espaço Sesc – Mezanino. Peça: ‘Sobreviver no Tarrafal’, com o Grupo de Teatro Horizonte Nzinga Bamdi (Angola)
20h – Teatro Sesc Tijuca. Peça: ‘Psycho’, com a Companhia de Teatro Solaris (Cabo Verde)
21h – Espaço Sesc – Teatro Arena. Peça: ‘No Inferno - Grupo de Teatro do Centro Cultural Português de Mindelo’ (Cabo Verde)

10 de julho (sexta)
19h – Teatro Sesc Ginástico. Peça: ‘Cortiços’, com a Cia de Teatro Luna Lunera (Brasil)
21h30 – Espaço Sesc – Mezanino. Peça: ‘O Homem ideal’, com o Grupo M'Bêu (Moçambique)
21h – Espaço Sesc – Teatro Arena. Peça: ‘Uma solidão demasiado ruidosa’, com a Cia Teatral Artistas Unidos (Portugal)
20h – ‘Teatro Sesc Tijuca’. Peça: ‘Lindos dias’, com a Cia Teatral Primeiros Sintomas (Portugual)

11 de julho (sábado)
19h – Teatro Sesc Ginástico. Peça: ‘Mar me quer’, com o Grupo Teatral Tijac (Moçambique – Maputo com Ilha da Reunião)
21h30 – Espaço Sesc – Mezanino. Peça: ‘Complexo sistema de enfraquecimento da sensibilidade’, com a Cia de Teatro Antro Exposto (Brasil)
21h – Espaço Sesc – Teatro Arena. Peça: ‘No Inferno’, com o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português de Mindelo (Cabo Verde)
20h – Teatro Sesc Tijuca. Peça: ‘O Homem ideal’, com o Grupo M'Bêu (Moçambique)

12 de julho (domingo)
19h – Teatro Sesc Ginástico. Peça: ‘Lindos dias’, com a Cia Teatral Primeiros Sintomas (Portugal)
20h – Espaço Sesc – Mezanino. Peça: ‘Nó mama - Frutos da mesma árvore’, com o CTO (Guiné-Bissau)
19h30 – Espaço Sesc - Teatro Arena. Peça: ‘Kimpa Vita - A profetisa ardente’, com o Grupo Elinga-Teatro (Angola)
20h – Teatro Sesc Tijuca. Peça: ‘Uma solidão demasiado ruidosa’, com a Cia Teatral Artistas Unidos (Portugal)
22h – Espaço Sesc – Mezanino: Cerimônia de encerramento - entrega do Prêmio Festlip 2009 de espetáculo revelação


Grupos teatrais participantes na programação do FESTLIP:

Portugal:
Companhia Teatral Primeiros Sintomas - Espetáculo: “Lindos Dias”, com texto de Miguel Castro Caldas e direção de Bruno Bravo.
Companhia Teatral Artistas Unidos - Espetáculo: “Uma Solidão Demasiado Ruidosa”, com texto de Bohimil Hrabal e Direção de Antônio Simão.

Moçambique:
Grupo M'BEU - Espetáculo: “O Homem Ideal”, com texto e direção de Evaristo Abreu.
Grupo Tijac - Espetáculo: “Mar Me Quer”, de Mia Couto com direção de Mickael Fontaine.

Angola:
Grupo Elinga Teatro - Espetáculo: “Kimpa Vita: A Profetiza Ardente”, com texto e direção de José Mena Abrantes.
Grupo Horizonte Nzinga Bandi - Espetáculo: “Sobreviver No Tarrafal”, com de texto Antônio Jacinto e direção de Adelino Caracol .

Guiné Bissau:
Grupo Teatro do Oprimido – Bissau GTO - Espetáculo: “Nó Mama – Frutos da Mesma Árvore”

Brasil:
Cia. Luna Lunera – Belo Horizonte - Espetáculo: “Cortiços”, concepção Cia. Luna Lunera e Tuca Pinheiro e direção de Tuca Pinheiro.
Cia. De Teatro Antroexposto – São Paulo - Espetáculo: “Complexo Sistema de Enfraquecimento as Sensibilidade”, com texto de direção de Ruy Filho


Cabo Verde:
Grupo de Teatro do Centro Cultural Português de Mindelo - Espetáculo: “No Inferno”, com texto e direção de João Branco
Companhia de Teatro Solaris - Espetáculo: “Psycho”, com texto de Valódia Monteiro e direção de Herlandson Lima Duarte

Eventos paralelos:

04 de julho (sábado)

FestlipShow

4 de julho (sábado)
22h – Estrela da Lapa
Festa musical com apresentações de músicos brasileiros e internacionais (todos os países participantes). Entrada franca. Fidjus de Cabo Verde – Cabo Verde; Mário Lucio – Cabo Verde; Abel Duerê – Angola; Bongar – Coco da Xambá – Brasil; DJ Falcão – Angola; E mais uma atração surpresa

6 a 8 de julho (segunda a quarta)
Oficina Teatral:
Com o diretor português Miguel Seabra, do grupo teatral Meridional, direcionada aos atores participantes do Festlip e para estudantes de teatro como ouvintes, com entrada franca (distribuição de senhas).

7 de julho:
20h – Espaço Sesc Arena
Mesa de debates – ‘Encenação do Teatro da Língua Portuguesa’
A mesa será composta pelos diretores dos grupos teatrais participantes do Festlip, com mediação de Tania Brandão.

8 de julho:
19h – Espaço Sesc Arena
Vitrine Carioca do Teatro do Corredor Cultural da Lapa
Exposição do trabalho realizado por três grupos teatrais cariocas, Tá Na Rua, Cia. dos Atores e Teatro de Anônimo, através dos seus diretores: Amir Haddad, Enrique Diaz e João Carlos Artigos. Participação dos atores das companhias.

Informações para a imprensa:
Factoria Comunicação
Vanessa Cardoso (
vanessa@factoriacomunicacao.com.br)
Pedro Neves (
pedro@factoriacomunicacao.com.br)
Leila Grimming (
leila@factoriacomunicacao.com.br)
(21) 2249.1598 / 2259.0409




Fonte: e-mail enviado pela idealizadora e produtora do FESTLIP, Tânia Pires, às 14h14 do dia 21/06/2009.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Mia Couto - Antes de Nascer o Mundo (Livro)

Jesusalém, ermo encravado na savana, em Moçambique, abriga cinco almas apartadas das gentes e cidades do mundo. Ali, ensaiam um arremedo de vida: Silvestre e seus dois filhos, Mwanito e Ntunzi, mais o Tio Aproximado e o serviçal Zacaria. O passado para eles é pura negação recortada em torno da figura da mãe morta em circunstâncias misteriosas. E o futuro se afigura inexistente.

Silvestre afiança aos filhos e ao criado que o mundo acabou e que a mulher — qualquer mulher — é a desgraça dos homens. Mas um belo dia os donos do mundo voltarão para reivindicar a terra de Jesusalém. E não só isso: uma bela mulher também virá para agitar a inércia dos dias solitários daqueles homens.

Mia Couto é um dos maiores expoentes da literatura africana de expressão portuguesa. Moçambicano e amante confesso da escrita inventiva do brasileiro Guimarães Rosa, ele é um artista investido do poder mágico e poético das palavras. Mas é da alma do povo de seu país, bela, trágica, alegre, sofrida, enigmática, que este poeta da prosa extrai seu ouro universal.

Em Portugal, Moçambique e Angola o livro recebeu o título de Jesusalém.


Antes de Nascer o Mundo
Mia Couto
Companhia das Letras
280 páginas
R$ 42,00
http://www.companhiadasletras.com.br/

Ondjaki - Avódezanove e o Segredo do Soviético (livro)

A PraiaDoBispo é um bairro tranquilo de Luanda: o VelhoPescador cuida de sua rede, o VendedorDeGasolina espera um cliente que nunca chega, AvóAgnette e AvóCatarina conversam com a vizinha e ralham com os miúdos. As obras de um mausoléu, porém, transformam e ameaçam o cotidiano: soldados soviéticos comandam a construção, e o projeto ameaça desalojar os moradores.

As crianças da PraiaDoBispo assistem a tudo com seus olhos inocentes mas agudos, e divertem-se com as brincadeiras de rua e a extravagância dos estrangeiros. Elas desconfiam que os “lagostas azuis”, como chamam os soviéticos, tramam algo confidencial. Mas o segredo do soviético pode ter a ver com outras coisas: a enorme quantidade de sal grosso encontrada no depósito da construção, os pássaros de plumagens coloridas presos em gaiolas ou a dinamite nos barracões das obras.

AvóDezanove e o segredo do soviético é um romance que ultrapassa o horizonte histórico e biográfico para resultar num relato ficcional amparado na poesia da imaginação, no humor inocente da infância e na linguagem que combina o sabor da oralidade do português angolano ao talento narrativo de um jovem escritor africano.
Avódezanove e o Segredo do Soviético
Ondjaki
Companhia das Letras
192 páginas
R$ 36,00
http://www.companhiadasletras.com.br/

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Tchale Figueira - Ulisses a espera de Penélope (conto)

Conto enviado pelo artista plástico e escritor Tchale Figueira, que revisita o mito grego e aborda temáticas pertinentes à literatura de Cabo Verde.
Ricardo Riso

Ulisses à espera de Penélope
Tchale Figueira

Ulisses como todos os rapazes de S. Vicente, tinha os olhos voltados para a baía do Porto Grande. Deslumbrado com os vapores da Blue Star e da Mala Real ancorados na baía da velha cratera em semicírculo, e o Monte – Cara secularmente contemplando nuvens passando, como um poeta em silencio, Ulisses idealizava a distante Argentina nas Américas e…um belo dia, enchendo-se de coragem foi ter com António Cara Linda, um abastado negociante de barcos e velho amigo da família, que o ajudasse a realizar seu sonho. Tirando o boné em sinal de respeito, entrou no enorme armazém do negociador repleto com miríades de cordas, tintas, e objectos marítimos, para ele desconhecidos e encontrou Cara Linda sentado numa velha cadeira americana de vai vem a moda dos Cow Boys, com as pernas estendidas numa enorme mesa repleta com papeis, lendo um jornal desportivo. Sem rodeios foi directo ao assunto e, expressando de forma clara o seu desejo, prometeu ao Cara Linda, jurando por Deus, ir trabalhar arduamente na terra das pampas, e um dia devolver ao comerciante a quantia do empréstimo para a sua viagem à terra das vacas infinitas, e de um tal de Jorge Luís Borges, escritor…

Cara Linda, homem bondoso, antigo emigrante que, após trinta anos de dura labuta no mundo tinha regressado endinheirado a Mindelo, compreendeu perfeitamente o direito de sonhar do rapaz, foi generoso…

Anos mais tarde, depois de muitas peripécias, bem na vida, Ulisses era o mulato mais desejado de Doc Sur em Buenos Aires. Bailava Tango melhor do que ninguém, trabalhava com primor, e tinha já amealhado em pouco tempo, uma considerável fortuna, vendendo charutos de contrabando. Visitou frequentemente alcovas e bordéis das belas senhoritas portenhas, sem nunca se esquecer da sua Penélope, a mulata mais linda da sua ilha, que ele carregava religiosamente na sua carteira de couro argentino genuíno... numa bela fotografia a preto e branco…

Após uma longa troca epistolar com a sua princesa que durou cinco anos e cinco meses, pediu por correspondência a mão da amada aos pais, e com grande felicidade foi-lhe concedido a bênção dos progenitores e… através de um procurador, após rígidas instruções de Ulisses, foram regrados os papéis num rigor burocrático colonial só visto, marcou-se o dia do casamento por procuração, devido a ausência do noivo, emigrante na distante Argentina…

Naquele dia, a cidade brilhou! …E dizem os mais velhos, que Penélope é até hoje, a mais linda noiva deste burgo e naquele dia fora conduzida ao altar pelo excelentíssimo Sr. Doutor juiz, Manuel da Cunha e Sacramento Pais Ferreira, padrinho do enlace por consentimento do aventureiro Ulisses… Célebre foi também, a festa do enlace com centenas de convidados distintos na sala do Nho Jom Tolentino, no bairro do Monte de Deus onde tudo era foguetes tambores e comida durante dias…

Terminado a festança, meses mais tarde a noiva embarcou para Buenos Aires numa noite de Fevereiro, num escuro de breu, em que a cacimba chicoteava as costas dos remadores semi nus do bote de Cara Linda. Penélope triste, embarcou no navio inglês de nome Faith, barco da mala real que rumava primeiro ao porto de Santos no Brasil, logo a capital Argentina…

Com um ambíguo sentimento de alegria e saudade, Penélope partira para terra longe, com os pais no cais chorando inconsoláveis, acompanhados por alguns familiares que acenavam a princesa com lanternas, no piche da noite tropical naquele cais da Alfândega, com as suas gruas fálicas fornicando a escuridão… Era a hora di bai… pensava a bela musa, lembrando-se por um segundo da morna do poeta Eugénio Tavares, ao mesmo tempo que escutava, o chapinhar dos remos cadenciados do bote, entrando e saindo da água…

Com o paquete cortando o azul imenso do mar, num esforço titânico, no segundo dia, Penélope logrou sair da sua cabine, depois de ter vomitado as tripas coração, chorar até não ter lágrimas para derramar tanta saudade… Com as pernas tremendo, dirigiu-se ao salão da nave, ali dentro, depara com um outro passageiro Cabo-verdiano, um belo homem, com quem tinha cruzado várias vezes na pequena praça da cidade… cavalheiro de paletó branco e sapatos a duas cores, preto e branco, brilhando impecavelmente… Que, ao avistar a linda mulata entrando no salão, convidou-a cordialmente para a sua mesa naquele amplo salão inglês, decorado com um enorme quadro com motivos de uma caçada, onde homens a cavalo com vários sabujos raivosos, perseguiam uma raposa, numa floresta bem deprimente. O pintor, um medíocre, com certa habilidade, lograra transmitir uma certa atmosfera kitch para a tela…

Com o seu cabelo crespo, preto de azeviche, alisado com brilhantina a moda de Carlos Gardel, e um bigode perfeitamente simétrico, o elegante gentil-homem, que residia em Salvador da Baía, regressava ao Brasil, após longas férias no arquipélago terra onde nascera. Com ar de sedutor afro-latino, Penélope não resiste ao charme do peralta, e no quinto dia de navegação, ela é seduzida de forma admirável, com gestos e palavras bonitas do finório, no seu belo e cantado português do Brasil… Foi desflorada com mestria num piscar de olho pelo o astuto António Cabo-Verde, um malandro e cafétão conhecido em toda as esquinas de Salvador da Baía. Apaixonaram-se perdidamente, amaram até a exaustão sem que os ingleses da tripulação interviessem nos seus jogos de amor e…

– Penélope, nunca chegou ao seu suposto destino… Como disse um sábio: O destino?... A gente faz! …

Arrasado com esta fatalidade, e sem nunca perceber o destino da sua amada, louco de dor, Ulisses perdeu a noção do tempo…

– Hoje, velho e andrajoso, com uma barba enorme e uns cabelos sujos e desgrenhados feitos punhais prontos para espetar-lhe no coração destroçado, triste Ulisses senta todos os dias no cais numero 7 em Doc Sur, Buenos Aires acompanhado do seu cão Argos, olhando o horizonte… Dizem, que está esperando o fantasma da amada, que nunca chegou aos seus braços.

terça-feira, 16 de junho de 2009

CEAO(UFBA) promove curso de formação de professores

O Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) inscreve, até o dia 30 de junho, para o Curso de Formação de Professores para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileiras, profissionais da educação (Diretores, Coordenadores e Professores) das redes públicas de Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari, Simões Filho e Mata de São João. O curso integra a Rede de Educação para a Diversidade, criada em 2008 a partir de uma articulação entre a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC) e a Universidade Aberta do Brasil (UAB), com o objetivo de formar um grupo permanente de formação inicial e continuada a distância para o desenvolvimento e disseminação de metodologias educacionais para inclusão de temas relacionados à área de Diversidade.

Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), além do curso Curso de Formação de Professores para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileiras, promovido pelo Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), serão promovidos os cursos de Educação Ambiental, a ser promovido pela Faculdade de Biologia, e Educação de Jovens e Adultos, promovido pela Faculdade de Educação.

Mais informações no site www.educacaoafrobrasil.ufba.br e pelo telefone 3283-5504, de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas (Falar com Zelinda ou Lucylanne).

Fonte: e-mail enviado no dia 16/06/2009 pela Profa. Zelinda Barros, autora do blog http://fazervaleralei.blogspot.com .

Profa. Inocência Mata na PUC/RS – Porto Alegre

Com o intuito de promover a atualização de professores, pesquisadores e estudantes de pós-graduação no âmbito das questões lusófonas e dos estudos culturais, o Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL) e o Núcleo de Estudos Lusófonos (NEL) vêm, por meio deste, convidá-lo a participar do Seminário Livre de Literatura A literatura africana e a crítica pós-colonial, a ser ministrado de 24 de junho a 1.o de julho pela Prof.a Dr. Inocência Mata, da Universidade de Lisboa. Os encontros acontecerão no Auditório Ir. Elvo Clemente (sala 305 do prédio 8), sempre das 9h às 12h. As inscrições devem ser feitas na secretaria do PPGL.

Atenciosamente,

Prof.ª Dr. Maria Luiza Ritzel Remédios
Coordenadora do NEL

Prof.ª Dr. Ana Maria Lisboa de Mello
Coordenadora do PPGL

Fonte: e-mail enviado pela colega Letícia Nunes Gomes, às 9h12 do dia 16/06/2009

Vozes da África na Literatura Infantil

Atividade "Vozes da África na Literatura Infantil - as múltiplas representações de África na Literatura Infantil", ministrada pela Profa. Cristiane Madanêlo (Colégio de Aplicação da UFRJ).

Dia 20 de junho – 9 às 13h
SINPRO-RIO
Rua Pedro Lessa, 35 – 2 andar
Centro – Rio de Janeiro
Tel 3262-3440

Agradeço ao amigo João Carlos que gentilmente enviou esta informação.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Cadernos África e Africanidades

Em comemoração ao seu primeiro aniversário, a revista acadêmica on line África e Africanidadeshttp://www.africaeafricanidades.com/ – selecionou seus melhores textos neste período e lança-os em formato impresso, agora denominados Cadernos África e Africanidades. A primeira edição é dedicada às literaturas africanas e afro-brasileira, enquanto a segunda é dedicada às mulheres negras.

Os Cadernos podem ser adquiridos em nosso site - http://www.africaeafricanidades.com/livraria1.html - e o pagamento é realizado pelo sistema Pag Seguro que possibilita transações via cartão de crédito à vista ou parcelado, transferência e boleto bancário; bem como o cálculo de frete.

Abraços,
Ricardo Riso




José Luiz Tavares - Retrato do Poeta aos Quarenta e Dois

Ao poetamigo José Luiz Tavares,

Minhas felicitações por mais um aniversário! E nada melhor que celebrar esta data divulgando a sua poesia com o belo poema enviado pelo senhor.

Com admiração, carinho e respeito, um grande abraço
Ricardo Riso


RETRATO DO POETA AOS QUARENTA E DOIS

Quarenta e mais dois são os contados
anos, de parcos milagres, nulas maravilhas,
créditos de quantos dias hipotecaste
ao fingido desvelo dessa mão afoita.

Partias. E eram já estendal de arroteado pó
as várzeas de vário verde, lêveda lembrança
de quando vós, senhora de navegáveis curvaturas,
vos arregaçáveis, estendida sobre um dealbado
chão de sargaços, para a impante glória
desse atamancado coração
rendido à ressaca que o rilha p’la calada.

Quarenta e mais dois, não de enganos tantos,
mas da certeza que estar vivo é soluço
que descamba em ruivos dessangrados versos,
suados colhões belicosos, inda tão lembrados
dos desvelos, amorios — ó mistério de leveza —
que lhes davam mãos perdulárias
à mesa posta da penúria.

Quarenta e mais dois, e eis-te desconforme
ao ar do tempo, cão que ainda se eriça
ao tartamudo rilhar do vento à flor das gáveas,
ao arfar recidivo e rombo,
à sílica golfando nos costados lacerados.

Céus de lua nova, dai-lhe um firme ombro
para os súbitos rasgões da saudade,
arte para quanta ginga a vida requeira
— embora a bigorna dos meses crepite
silenciosa nos alveólos, aos quarenta e mais dois,
dores, tirando certos avulsos cagaços,
apenas as poeticamente repartidas por alguns
celebrados livros que lhe não fizeram mais
refinado em meio a tanta cabronada.

Quarenta e mais dois, quase novo, quase velho
o rosto que sombriamente o espelho lhe devolve,
mas ainda não menos impoluto que o infante ranhoso
dos valados, por isso, ó vós castrados para a vida,
vós que tendes por expertise a salivante
arte do broche, tomai lá disto em forma de pum
e remoei-lo, ó vorazes milhafres do zunzum,
tal cautério para a vossa angústia de capados.

JOSÉ LUIZ TAVARES


(poema enviado pelo poeta em 09/06/2009)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sonia Rosa - Palmas e Vaias (lançamento livro)


Palestra com Dr. Herbert Ekwe-Ekwe na UFRJ

"África: Estado, Genocídio e Literatura, que perspectivas futuras?", palestra do Dr. Herbert Ekwe-Ekwe

Dia 25 de junho, às 11h, Auditório G1- Fac. Letras-UFRJ (Ilha do Fundão)

Dr. Herbert Ekwe-Ekwe – Nigéria, especialista em Literatura Africana e Estudos sobre Genocídio e relações com o Estado africano moderno. Publicou vários textos sobre o genocídio em Biafra, Nigéria e sobre Chinua Achebe, bem como autores nigerianos contemporâneos. Seus últimos livros são: Literature in defense of History e Biafra Revisited

Duração – 45 min. fala + 45 min. tradução + 30min. debate

Fonte: e-mail gentilmente enviado pela Profa. Dra. Carmen Lucia Tindó Secco (UFRJ), em 05/06/2009

CURSO: HISTÓRIA, CULTURA E ARTE YORUBÁ (UNEB)

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCHI
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS
GEAALC – GRUPO DE ESTUDOS AFRICANOS E AFROBRASILEIROS EM LÍNGUAS E CULTURAS.

CURSO: HISTÓRIA, CULTURA E ARTE YORUBÁ

Em vista da marcante presença Yorubá no Brasil, dos tempos coloniais até hoje, este curso irá abordar fundamentos da história, cultura, religião e arte Yorubá. Será dada ênfase especial à Cosmologia, Arte e Iconografia dos Orixás, Simbolismo das Cores, Mediunidade e Máscaras.

As aulas expositivas e ilustrativas irão permitir aos participantes não apenas adquirir um conhecimento mais profundo das tradições culturais e artísticas do povo Yorubá, mas também desenvolver habilidades analíticas que facilitarão contextualizar sua reinterpretação no Brasil.

PROF. DR. BABATUNDE LAWAL
Nascido na Nigéria, Babatunde Lawal graduou-se em Artes Plásticas na Universidade de Nsukka, Nigéria. Possui Mestrado e Doutorado em História da Arte pelas Universidades de Indiana (EUA). Ensinou por vários anos na Universidade Obafemi Awolowo, em Ile-Ife (Nigéria), onde foi fundador e Chefe do Departamento de Belas Artes e Diretor da Faculdade de Artes.

Atualmente é Professor de História da Arte no Virginia Commonwealth University, em Richmond, Virginia (EUA). Também foi professor visitante das Universidades de Harvard (Massachusetts) e de Columbia (New York), Dartmouth College (New Hampshire), Michigan State University (East Lansing), Kalamazoo College (Michigan), Harare Polytechnic (Zimbábue), Universidade de São Paulo (Brasil) e Universidade Federal da Bahia (também no Brasil).

O Professor Lawal tem inúmeras publicações sobre diferentes aspectos da arte na África e sobre a Diáspora Africana. A sua pesquisa sobre a estética e os significados das artes e festivais tradicionais contribuiu significativamente para o seu reconhecimento internacional, servindo de inspiração a artistas negros contemporâneos.

LOCAL: AUDITÓRIO DO CPDER (Atrás do prédio do mestrado).
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
CAMPUS I
Rua Silveira Martins, 2555 – Cabula

PERÍODO: DE 06 A 10 DE JULHO DE 2009

HORÁRIO: 14 ÀS 18 H.

INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES:
BIBLIOTECA DA PÓS-GRADUAÇÃO
PROFA. HILDETE
TEL: (71) 3117.2448

VALORES:
ESTUDANTES R$ 25,00
OUTROS R$ 50,00

APOIO: DCHI – PPGEL – PROEX

Fonte: e-mail gentilmente enviado pela Profa. Hildete Santos Costa (UNEB), em 07/06/2009.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Arménio Vieira - poemas


Arménio Vieira nasceu na Praia, ilha de Santiago, em 29/01/1941. Foi integrante da geração dos anos 1960 da poesia cabo-verdiana. Geração marcada por uma poesia marcada pela revolta e combate ao governo colonial português, à época sob a ditadura salazarista.

Arménio Vieira escreveu quatro livros, dois de poemas e dois romances, respectivamente, “Poemas” e “Mitografias e “O eleito do sol” e “No inferno”, fora vários outros textos publicados de forma dispersa em revistas como "Fragmentos", "Boletim Imbondeiro" e "Vértice", sobretudo, em Cabo Verde.

O poeta foi recentemente galardoado com o Prêmio Camões. Pela primeira vez um autor de seu país atingiu tal reconhecimento, o que valerá para dar maior visibilidade à literatura de Cabo Verde.

Vieira foi um dos fundadores da revista Seló (1962), que seguia a proposta de publicar textos de cabo-verdianos para Cabo Verde fundamentada pela Claridade e por Certeza, marcos da literatura do arquipélago. Arménio participou com um poema no seu segundo e derradeiro número; não devemos estranhar a quantidade escassa de edições devido à forte perseguição que os opositores da ditadura sofriam, logo, qualquer manifestação com voltas à libertação das colônias era rapidamente sufocada.

A poesia de Vieira apresentava as preocupações com o estado em que se encontrava o país, relia temas pertinentes à geração claridosa como o mar, o que podemos conferir no trecho do poema publicado em Seló:

Mar!

Raiva – angústia
De revolta contida

Mar!

Do não-repartido
E do sonho afrontado

Mar!

Quem sentiu mar?
(SELÓ)

Pensar o futuro, imaginá-lo com novas possibilidades para o arquipélago, entretanto, sem a certeza utópica, mas sim com diversas possibilidades:

Talvez um dia
Onde é seco o vale
E as árvores dispersas
Haja rios e florestas.
E surjam cidades de aço
E os pilões se tornem moinhos.
Ilhas renascidas
Nuvens libertas...
À medida dos nossos desejos.

Sim
Talvez um dia...
Quem sabe!
(Apa;Barbeitos; Dáskalos. p. 165-166)

Contudo, a poesia de Arménio Vieira consagra-se não só por sua abordagem das preocupações inerentes ao cabo-verdiano, mas sobretudo pelo caráter universal das referências literárias, pela ousadia das experiências estéticas, pela criatividade metapoética e pela permanente ironia dos versos a desmascarar a mediocridade imposta pelos líderes das sociedades, que contaminam as vidas das pessoas desfavorecidas com a miséria hipócrita de suas existências. Vieira com seu olhar arguto sempre foi coerente e fiel a sua obra, conseguindo extrair de um mundo infestado por decepções e desconforto matéria para tecer uma poesia cuidadosa, sutil e bela. Parabéns ao Poeta que jamais se corrompeu!

Os poemas seguintes são uma pequena recolha feita por mim.

Ricardo Riso


MAIS NADA

Alexandre Puchkine: o maior poeta da Rússia.
Georges Dantes: galões de oficial, mais nada.

Entre aquele e este o ciúme: fruto amargo
Com raízes no sexo. Faca fria e pontiaguda
Encostada ao coração.

Em 27-7-1837 Dantés mete uma bala
Na fechadura da História e entra.
Puchkine retira-se, com direito à estátua.

Victor Hugo, grande voz, garganta de leão,
Diria, como disse em “Notre Dame”: FATALIDADE!
Mentira. Por uma fêmea somente, mais nada.
(VIEIRA. p. 126)


RETRATO DE POETA*

Pobre Fernando sem Dom nem Formoso!
Rei somente em poesia
que o mundo – tu mesmo o disseste –
é para os que têm o dom da conquista

Pobre Fernando de mãos-postas!
De tal sorte fingidor e poeta
que até fingia que cria!

Pobre Fernando de óculos e chapéu
a sonhar com navios e aves do mar!
De que te valia ser marinheiro
num mundo descoberto e achado
ou ser pássaro e voar
no meio de falcões a rondar?

Pobre chapéu de poeta
ridículo como uma carta de amor!
Ainda se um raio de sol
(transido no tempo e na bruma)
ou uma gota de chuva
(oblíqua e pequena que fosse)
te viesse tornar necessário!

Pobre Fernando de mãos-postas!
Patética pose de poeta


* Este poema foi-me sugerido pelo desenho intitulado Fernando Pessoa Não-Ele-Mesmo, da autoria de c. pinheiro, inserto na revista Nova 1.
(VIEIRA. p. 49-50)


UM GATO LÁ NO ALTO

Quando e onde
não me lembro já.
Mas o certo é que a gente falava
da cauda longa dos cometas
e do calor intenso
que habita o núcleo das estrelas.

Meus olhos
estavam fitos no espaço
e de repente
vi um gato
pulando lesto e contente.
Eu juro que vi um gato
saltando de uma nuvem para outra
até ficar oculto
num floco todo branco
Confesso: tive ciúme.
“Deixe esse trapo
e salte cá para baixo”
– ia eu gritar ao gato
mas lembrei-me ainda a tempo
que a distância era muita
e que nenhum bichano entende
a conversa cá da gente.
Ainda que ele ouvisse:
o espírito de um gato
é como o canto de um poeta
– não atende nem escuta
a ordem de ninguém

Engraçado! Um gato lá no alto
entre os braços duma nuvem.
Talvez fosse
um bruxo disfarçado
ou a alma de um vate
vogando no espaço.
(VIEIRA. p. 29-30)


FÁBULA DE ESOPO

Um touro, ignorante de cabeça,
mas rijo de couro e carcaça,
quis ser elefante

Engoliu vento, inflou...
e já feito imenso balão
(de meter medo à selva e ao leão)
deu um estouro e tombou

Um elefante, por ali vagabundo,
esfregou os olhos, descrendo,
e foi acordar em cima dum ouriço-cacheiro

Uma rã pulou à loja, defronte,
e coaxou ao caixeiro:
– Faça favor de me vender um foguete!
(VIEIRA. p. 33)


DIDACTICA INCONSEGUIDA

Tu nunca viste um homem
Subitamente triste
Ao descobrir um tesouro ou paraíso
Ou alguém com dor no peito
E um gume encostado ao coração
Cuspindo riso pela boca
– Entretanto ensino-te os caminhos
que não passam pela porta de ninguém
e dizes que sou louco
(VIEIRA. p. 59)


SÍSIFO

Peguei numa pedra
e a seguir pus outra em cima
e assim procedi
continuamente
até erguer alta a minha torre

contratei violinos e cantores
e povoei-a
com música e canto

sentei-me e escutei...
mesmo assim não gostei

e então procurei
a donzela mais rara
e trouxe-a comigo e sentei-a nos meus joelhos
e vi como eram tristes os seus olhos

tinha uma boca
como nunca vi outra
mas os seus lábios eram frios
e não pude aquecê-los
– nem com taças de vinho
nem com versos de amor

Peguei num monte de violinos
e quebrei-os até a última corda

encostei-me a uma janela
e vi a moça dos olhos tristes
fugindo como gazela pela noite

pronunciei então a frase terrível
e fiz tombar a minha torre
os deuses rangeram como bronze
e acordaram do seu sono

depois fui condenado
a transportar até ao cimo mais alto
a pedra mais pesada
– talvez aquela em que peguei primeiro
e dei início a minha torre
(VIEIRA. p. 65-66)


CAVIAR, CHAMPANHE E FANTASIA

A esplanada da Praia em Santiago de Cabo Verde
no dia 29 de janeiro de 1971
é uma hipótese de bomba termonuclear
de que não se calculou a ogiva
é o projeto de um foguetão apontado para a lua
que nunca chegou a partir
(ficou só o esboço da rampa
que não foi concluída)

A esplanada da Praia – mesmo em dia de sol e suão –
seria um oásis magnífico e fresco
se a nossa fé (que remove montanhas)
fosse um milésimo do grão de mostarda

E haveria café
sem que se fosse plantar um cafeeiro
na cabeça do gerente que entra e que sai
e à noite regista os proventos do dia

A esplanada teria um leite mais branco
e clientes catitas e empregadas bonitas
e baixaria para uma média razoável o número de pedintes
e caçadores de beatas
e haveria por certo uma clínica ali perto
e remédios para tudo (até para os males sem cura)

A esplanada teria um helicóptero para os poetas dilectos
e o chafariz ao lado não teria sacado

E haveria cisnes brancos a boiar todo o tempo
e até um jardim suspenso
com tulipas de estufa e girassóis

A esplanada teria aviões de jacto à distância de um braço
ali – no coreto da praça –
que só tem músicos de banda e bombo
a cinquenta mil-réis por semana

A esplanada teria um odor a DDT perfumado
e talvez uma catedral feita por Oscar Niemeyer
(tão diferente da igrejinha do lado
com suas quatro paredes quadradas
e uma cruz tão fora da moda)

A esplanada da Praia seria uma maravilha do mundo
por cuja abóboda cristalina e bordada
as estrelas chegariam coloridas até nós

A esplanada, por fim, teria outro nome
– Morabeza, sem dúvida, é um termo inventado
para ali estar como luva ou sapo imbecil
(estou mesmo a vê-lo, sobre o balcão, a turvar o aquário)

Pelo que ficou dito
e pelo que não –
talvez fosse oportuno morrer aqui e agora
em vez de comemorar minhas três décadas de vida
a sonhar com champanhe e caviar
na esplanada da Praia em Santiago de Cabo Verde
no dia 29 de Janeiro de 1971.
(VIEIRA. p. 46-48)


PARÁBOLA

Por esse tempo um monstro, a Esfinge, devastava os arredores de Tebas, devorando os viandantes que não adivinhavam os seus enigmas (...)

Sobre o desenho de um templo
traço o poema e digo

é néscia a palavra
é fífia o som
é vazia a garganta

Falsa é a voz que vibra o santuário
- a besta de Tebas ocupa já
o plano mais alto
no pedestal dos deuses

tudo encenado e em acto
(Oh, não falte quem engula
o oráculo e a hóstia!)

COM ÉDIPO AUSENTE
- TAL É A MISTIFICAÇÃO DA PALAVRA
(VIEIRA. p. 95)


POSFÁCIO

Para Manuel Ferreira

Num retomar constante e abandono
os poemas podem ser assim ou de outro modo
até ao infinito. Só que estes
(não importa o sangue ou seiva que a outros se foi pedir)
são bem as marcas que o estar-no-mundo e a dor
feriram numa certa pedra.
E fora outra a sorte ou talvez o lugar e o tempo
e seria diferente o livro
e a lembrança que de uma obra fica
depois de lida e entregue aos bichos.
(VIEIRA. p. 108)


SE...?

Se não houvesse
mar, nem vento,
nem flor, nem planta,
nem lar, nem gente?

E tudo o que é
deixasse de ser:
o dia e a noite,
o macho e a fêmea,
a dor e o gozo.

E as estrelas fossem
palavras sem nexo
e o tempo vazio
de vozes e gritos


Haveria Deus,
sem mais,
amando coisa nenhuma,
para si mesmo
sábio e santo.

Sonhador solitário,
sonhando que sonho?
Sem mundo, só Ele,
redondo como um zero.
(VIEIRA. p. 119)


FALA O PAPA JOÃO PAULO SEGUNDO

A voz é outra, porém a mesma,
como outrora Pedro
exortando à Fé.
Eco talvez do verbo crucificado
ou semente lançada pela mão de Saulo.

Entre a multidão que reza e canta,
Silvenius, o poeta, santo sem fé,
fica triste, estremece.
E sonha ter sido um anjo,
expulso do Céu, por ser julgar igual a Deus.
(Fragmentos. p. 26)


POEMA

Mar! Mar!
Mar! Mar!

Não o mar azul
De caravaelas ao largo
E marinheiros valentes

Não o mar de todos os ruídos
De ondas
Que estalam na praia

Não o mar salgado
Dos pássaros marinhos
De conchas
Areia
E algas do mar

Mar!

Raiva – angústia
De revolta contida

Mar!

Do não-repartido
E do sonho afrontado

Mar!

Quem sentiu mar?
(SELÓ, nº 2)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

APA, Lívia; BARBEITOS, Arlindo; DÁSKALOS, Maria Alexandre (Orgs.). Poesia Africana de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2003.

FRAGMENTOS – Revista de Letras, Arte e Cultura. Praia: Movimento Pró-Cultura. Ano IV, nos 7/8, Dezembro de 1991.

SANTILLI, Maria Aparecida. Literaturas de Língua Portuguesa: Marcos e Marcas – Cabo Verde: Ilhas do Atlântico em prosa e verso. São Paulo: Arte & Ciência, 2007.

SECCO, Carmen L. T. R. (Org.). Antologia do mar na poesia africana de língua portuguesa do século XX: Cabo Verde. Rio de Janeiro: UFRJ, Coordenação dos Cursos de Pós-Graduação em Letras Vernáculas e Setor de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, 1999. v.2.

SELÓ – Página dos Novíssimos (edição facsimilada). Praia: Instituto Caboverdiano do Livro e do Disco, 1990.

VIEIRA, Arménio. Poemas. Mindelo: Ilhéu, S/D.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Bouquet de Estrelas para Arménio Vieira, por José Luiz Tavares

Esta belíssima homenagem ao escritor Arménio Vieira, galardoado com o Prêmio Camões, foi enviada pelo poeta José Luiz Tavares. Aqui, compartilho com vocês.
Parabéns, Arménio Vieira!!!
Ricardo Riso
BOUQUET DE ESTRELAS PARA ARMÉNIO VIEIRA,

DITO CONDE, REI À NOSSA MANEIRA

Mais do que justa é a atribuição do prémio Camões ao poeta Arménio Vieira, senhor duma obra sólida, ainda que escassa. Em meio às pressões identitárias e à vociferação tribunícia, que tempos e circunstâncias impuseram a outros menos radicais na assumpção da condição criadora, Arménio Vieira soube abrir-se à universalidade estética e pensante, sem no entanto deixar de reflectir nas suas obras as atribulações existenciais e as particularidades antropológicas do ser-se caboverdiano.

Embora se possa tomar este prémio como uma reparação devida, ainda que tardia, à literatura caboverdiana, ele é, indubitavelmente, o coroar da obra daquele que dentre nós encarnava por excelência a figura e condição de poeta, e não nobilita, por atacado, toda a produção literária do arquipélago.

Talvez a pátria suspirasse por outros mais conformes aos ditames e cânones da monocultura identitária, a esses que de tanto fincar os pés perderam de vista o horizonte longínquo, como postula um dos meus grandes mestres, o irlandês Seamus Heaney neste verso, minha divisa e meu lema: «vai para além da segurança do que te é conhecido».

A ele, condor de largo voo, inolvidável coveiro da literatura gastronómica, nobre oficiante das horas salerosas do Cachito e Café Sofia, impoluto cobridor das fêmeas tresmalhadas, a ele nunca lhe foi horizonte o arrazoado folclórico-etnológico, mas o irredutível humano condensado na totalidade dos signos, onde a articulação entre reflexão e sentimento, aliada à discreta inteligência metapoética, são a afirmação extrema do que ainda nos sustém e poderemos chamar - no desconforto de um tempo de imundície terror e morte - beleza.

Lisboa, 3 de Junho de 3 de Junho de 2009
José Luiz Tavares (jltavares.poeta@gmail.com)
Fonte: e-mail gentilmente enviado por José Luíz Tavares às 13h31, dia 03 de junho de 2009.

Arménio Vieira (Cabo Verde) ganha Prêmio Camões


Poeta cabo-verdiano Arménio Vieira é o vencedor do Prêmio Camões

Nascido na Cidade da Praia, Ilha de Santiago, a 24 de Janeiro de 1941, é o primeiro escritor de Cabo Verde a ser distinguido com este prémio, no valor de 100 mil euros, criado em 1988.

Lisboa - O poeta, escritor e jornalista cabo-verdiano Arménio Vieira foi distinguido com o prémio Camões, a mais importante distinção para escritores de língua portuguesa.

Nascido na Cidade da Praia, Ilha de Santiago, a 24 de Janeiro de 1941, é o primeiro escritor de Cabo Verde a ser distinguido com este prémio, no valor de 100 mil euros, criado em 1988 por Portugal e pelo Brasil.

O seu livro "O Eleito do Sol" é considerado obra maior. Publicou no Boletim de Cabo Verde, revista Vértice, de Coimbra, em Raízes, Ponto & Vírgula e Sopinha de Alfabeto. Foi redactor no jornal Voz di Povo.

O escritor e jornalista tem entre os seus livros 'O Eleito do Sol' (1990), 'No Inferno' (1999) e 'MITOgrafias' (2006).

Em declarações à rádio TSF, o escritor mostrou-se surpreendido e comovido por ter recebido o galardão, acrescentando que quando o informaram pensou que "fosse uma brincadeira".

"Os poetas normalmente não são muito conhecidos",disse. Arménio Vieira disse receber influências literárias da China aos Estados Unidos.

A angolana Ana Paulo Tavares, especialista em literatura africana, considerou justo este prémio para um autor que inovou nas letras de Cabo Verde, quer na poesia, quer na prosa.

"Acho justíssimo não só por todo o percurso de Arménio Veira que tem um grande papel na literatura moderna" de Cabo Verde, mas também pela "proposta totalmente inovadora" que apresenta, disse a poeta angolana à rádio TSF.

Para o escritor cabo-verdiano Germano Almeida, um dos maiores poetas do arquipélago, quase todas as pessoas de Cabo Verde consideram Arménio Vieira um dos grandes poetas da região. "A poesia dele é extremamente válida", afirmou, acrescentando que Cabo Verde já tinha direito a ter um Prémio Camões.

Os últimos vencedores do Prémio Camões, instituído pelos governos português e brasileiro em 1988, foram os escritores António Lobo Antunes e João Ubaldo Ribeiro.

Fonte: http://www.africa21digital.com/noticia.kmf?cod=8516912&canal=403

II Ciclo de Colóquios-Curso Internacionais em “Literaturas Africanas de Língua Portuguesa” – 2009

II Ciclo de Colóquios-Curso Internacionais em
“Literaturas Africanas de Língua Portuguesa” – 2009
Colóquio-Curso Internacional em Literaturas de Cabo Verde,
Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe
Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

19 e 20 de Junho, Sala de Seminários CES


PROGRAMA

Dia 19 de Junho
10h00
Pires Laranjeira (Universidade de Coimbra)
“A emergência do negro e do feminino literários nas pequenas comunidades crioulas”

Odete Semedo (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa)
“Revisitar os escritos guineenses: a (re)criação de vozes na poesia e nos cantos”

12h30 Almoço

14h30
Inocência Mata (Universidade de Lisboa)
“Um laboratório de viventes: Deslocamentos, veredas, antinomias e errâncias na literatura
são-tomense”

Sílvio Renato Jorge (Universidade Federal Fluminense)
“Palavra, memória e política na poesia de Conceição Lima”

Dia 20 de Junho
10h00
Simone Caputo Gomes (Universidade de São Paulo)
“Cabo Verde e as pérolas do Atlântico: literatura e património cultural”

Joana Passos (Universidade do Minho)
“Dói-me que a folha em branco/ não exija nada”: a escrita de Dina Salústio como literatura comprometida

Livia Apa (Universidade de Napoli l’Orientale)
“Dentro/Fora Cabo Verde: escritas das diásporas caboverdianas”

12h30 Almoço

14H30
Mesa de Escritores: Conversa com Dina Salústio, Joaquim Arena, Odete Semedo e Tomaz Medeiros.

ORGANIZAÇÃO:
Margarida Calafate Ribeiro (Centro de Estudos Sociais)
Silvio Renato Jorge (Universidade Federal Fluminense)

INSCRIÇÕES:
www.ces.uc.pt/coloquios_litafricanas2/

INFORMAÇÕES:
http://www.ces.uc.pt/coloquios_litafricanas2/

Fonte: e-mail gentilmente enviado pela Sra. Helia Santos às 06:56, 03/06/2009.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Bonfanti – o enigma da existência em obras viscerais do artista

Por Ricardo Riso
31 de maio de 2009

Uma grande retrospectiva no Paço Imperial (RJ) reúne mais de três centenas de trabalhos que cobrem quarenta anos da carreira plástica de Gianguido Bonfanti. Quando falamos do artista e professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, mencionamos uma obra consistente, segura, fiel a um expressionismo voraz, poucas vezes realizado no Brasil, encontrada apenas em Iberê Camargo, o Ivan Serpa da Fase Negra ou Crepuscular e uma meia dúzia de dois ou três nomes da Geração 80 carioca ou da Casa 7 paulistana.

Como todo artista que se vale do expressionismo, o homem, com todos os seus desejos, angústias, dúvidas, perversões e anseios ocupa lugar de destaque em suas realizações plásticas, revelando um mundo de desarranjo, incerto, inquieto e devorador. É latente a presença da desilusão do homem contemporâneo, tornando sua obra atemporal e de difícil compreensão para seus pares, fato comum a artistas como Goya, Egon Schiele, Francis Bacon, Willem de Kooning, Lucien Freud, Leon Kossof, Frank Auerbach Geog Baselitz e principalmente o brasileiro Iberê Camargo. Artistas que mergulharam nas profundezas do âmago humano, desmascarando a incompreensão e a incomunicabilidade do tempo que lhes coube viver.

Esse homem em crise encontra-se em conflito no olhar do observador quando se depara com as soluções plásticas concebidas por Bonfanti. Sua gestualidade agressiva, solta, em pinceladas espaçadas e densas em total descompromisso com a forma da figuração humana e insubmissa ao contorno, exige que o espectador retire do corpo da pintura, da matéria pictórica, essa figuração e recrie-a, se necessário for, em sua mente. É nessa tensão latente, proporcionada por figuras ora fantasmagóricas, ora beiram a abstração, que a pintura de Bonfanti cresce, surpreende e se equipara aos maiores nomes da história da Arte, porque consegue extrair as sensações que desnudam as inquietações do homem, nos conduzindo à busca de nossa essência, a tentar descobrir o enigma da nossa existência.

Por isso, não há em Bonfanti preocupações com modismos, em seguir novas tendências ou experimentalismos opacos, ocos, inconsistentes, efêmeros, pois Bonfanti é fiel a si mesmo, é fiel à pintura. Sentimos verdade e entrega do artista diante de sua produção.

24.08.2005 - auto-retrato - óleo sobre tela - 40 x 35 cm*

Em um rápido resumo, vemos um Bonfanti expressando trabalhos sombrios, figuras híbridas, horríveis e surrealizantes, assustadoras como as criadas por Hieronymus Bosch ou H. R. Gigger. Retratam um período de predomínio das trevas da ditadura simbolizados plasticamente por meios em que o preto e o branco sobressaem, como o nanquim, a água-forte e a xilogravura. A cor, quando surge, revela-se como na série “Doenças Tropicais”: figuras deformadas, escatológicas, hediondas como foram aqueles anos marcados por mentes e corpos obliterados por um regime de exceção.

25.09.1979 – nanquim - 53 x 76 cm*

O início dos anos 1980 já revela uma fase de colorido intenso, exagerado, alegre, erótico e de forte figuração em diálogo com o kitsch e o fauvismo. Em alguns momentos o óleo bastante diluído lembra a aquarela, enquanto seus desenhos em pastel seco são livres e leves. Em contraste com o terror da década anterior, os anos 1980 são impregnados pela renovação dos ares trazidos pelos exilados políticos da ditadura que começam a retornar ao país em 1979, por causa da Lei da Anistia. Logo, havia uma esperança de dias melhores, uma certa euforia com o fim da ditadura, agonizante e inócua, sem razão para continuar e perpetuar seu poder opressor. O que culmina com o "retorno à pintura" e o clima festivo da mostra “Como vai você, Geração 80?” no Parque Lage e com os comícios gigantescos pelas “Diretas Já!” nas principais capitais do país, ambos em 1984.

01.10.1980 - pastel seco - 64 x 81 cm*

É no decorrer dos anos 1990 que a pintura de Bonfanti começa a adquirir linguagem própria. Sua pintura começa a ganhar em emoção e lirismo na mesma proporção em que a figura humana passa a ficar cada vez mais fragmentada, densa e tensa. Essa figuração começa a ganhar em impessoalidade devidos aos rostos despersonalizados. Com esse recurso, o artista expõe o homem coletivo, o homem comum. Há uma presença constante de um erotismo que beira a perversão, em cores escuras, em tons baixos de vermelho e azul, principalmente. Figuras próximas da abstração, brutalizadas, expressões que navegam da dor ao prazer.

Seus trabalhos recentes apresentam pinturas com pinceladas soltas, espaçadas e agressivas, que não preenchem a tela completamente, porém intensas nas áreas atingidas. Demonstram, inclusive, um paradoxo, pois se há um descompromisso com a forma, há um certo e sutil rigor em tratar a figuração humana ou o seu autorretrato. Estes são um capítulo à parte em sua obra, pois são exaustivamente trabalhados em releituras constantes, numa tensão permanente entre figura e fundo. Seus rostos diluem-se nas pinceladas, tornam-se impressões, onde ganham destaques os olhos do artista - a região de maior impacto cromático -, de massa pictórica e excessiva gestualidade.

16.01.1997 - óleo sobre tela - 150 x 190 cm*

Nas figuras atuais, elas estão isoladas, são solitárias, buscando uma interação que não se realiza no espaço pictórico. Bonfanti, com sua gestualidade demarca o espaço de incomunicabilidade, de figuras distantes, arrasadas, incompreendidas, melancólicas. Bonfanti mostra a miséria da nossa existência. Há um silêncio angustiante quase que tangível nessas obras. E não há como ficar impassível diante delas. As pinceladas são mais livres; o gestual fica mais solto, abstrato e ganha força, torna-se independente. Porém, o fundo carregado e pesado dos anos 1990 agora é tratado com certa leveza, há pequenas áreas com a presença do branco puro da tela. Bonfanti se reinventa, segue em frente, coerente com sua história, com suas influências.

20.07.2001 - óleo sobre tela - 140 x 150 cm*

Isso tudo que procuramos relatar neste texto, revela a força da trajetória de um artista que se sobrepõe à velocidade do mundo contemporâneo, pois como um sábio, Bonfanti sabe que todas as sensações que atingem o homem são as mesmas de sempre, por isso concentra-se na essência da espécie humana, de um homem em intermináveis conflitos que vive em um mundo desconfortável. É essa agonia tão bem traduzida em suas telas que traz inquietação para quem as contempla, pois é o desconforto de nossas vidas que está representado em suas pinturas. Com isso, sua obra ficará para todo o sempre, algo apenas atingido por um grupo seleto de artistas, tornando a visita a sua exposição obrigatória.

11.05.2007 - óleo sobre tela - 140 x 160 cm*


Gianguido Bonfanti fascina por trilhar e mostrar os obscuros caminhos de nossas contradições. Viver é difícil, entretanto, percorrer a sua trajetória pictórica, sentir a entrega incansável ao seu ofício reafirma a vontade de se estar vivo, mesmo que seja apenas para acompanhar a sua luta incessante com a pintura e a vida. É a consagração de um artista que busca decifrar o enigma da existência humana.


Gianguido Bonfanti – 1969/2009
Paço Imperial. Praça Quinze, 48, Centro, 2533-4407. Terça a domingo, 12h às 18h. Grátis. Até 5 de julho.



*Todas as imagens foram retiradas do site de Bonfanti: http://www.gianguidobonfanti.com

Revista África e Africanidades 6 - chamada para artigos

Prezados,

No período de 15 de maio a 15 de julho a equipe editorial da Revista África e Africanidades receberá e avaliará artigos e resenhas acadêmicos para publicação em sua 6ª edição (agosto/2009).

Para melhores informações e normas para publicação acesse www.africaeafricanidades.com

Abraços,
Ricardo Riso