terça-feira, 18 de novembro de 2008

Lêdo Ivo: Réquiem, o longo caminho entre dois nada


"A linha que separa a terra do mar fulgura como um raio."

Ao Lêdo Ivo, ao Gonçalo e à família com carinho e admiração
.


Entre as artes, uma distingue-se pelo seu poder insuperável de criar imagens: é a poesia, que reina soberana nos versos recheados de metáforas imprevisíveis feitas pelos poetas.

Feliz o poeta revelador da palavra que “traz a marca / das coisas escondidas para sempre”. Feliz por falar de “Réquiem”, o novo livro de poesia de Lêdo Ivo. Lançado pela Contra Capa em bem cuidada edição, com fotos das obras de Gonçalo Ivo, seu filho, e um desenho visceral de Gianguido Bonfantti. Sobre as dezoito imagens de Gonçalo criadas para este livro propõem um profundo diálogo com os poemas. A fragmentação das imagens pelas fotografias, a serenidade das pinturas sobre machucadas superfícies remetem às reminiscências versadas pelo poeta.

Densa é a travessia de “Réquiem”. São longos poemas com reflexões sobre a trajetória da vida e da proximidade da morte, em espera tranqüila. Árduo o trabalho do poeta que rememora o passado, busca imagens esgarçadas do outrora traduzidas em vocábulos que anunciam a condição do que foi perdido ou restou: “estilhaços”, “escombros”, “sobras”, “destroços”. “Tudo o que perdi, perdi para sempre”, vaticina o poeta.

Diante dos mares recriados das suas alagoas, o poeta repensa a sua caminhada em longos versos contrastando com o tempo exíguo:

“e agora, diante do oceano exato e visível, diante do
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx[grande mar prosódico
nada sei sobre a travessia.
Após tantas viagens, esta é a última fronteira
que me cabe transpor.”

Serenidade, sabedoria, paz, despedida... a palavra poética a conduzir a travessia na mente do leitor em belas imagens de um eu lírico profundamente intimista:

“Agora o silêncio do mundo lacra a minha alma.
O róseo raio da rósea alvorada
aponta para a noite escura.
De mim mesmo afastado pela morte,
essa concha que não guarda o barulho do mar,
é aqui que termina, na lama negra dos maceiós,
o meu longo caminho entre dois nadas.”

Sensível e comovente, “Réquiem” nos faz repensar a existência.

Ricardo Riso

Réquiem
Lêdo Ivo
Pinturas de Gonçalo Ivo
Desenho de Gianguido Bonfantti
Editora Contra Capa
64 páginas – 16,8 x 24,5 cm
2008

Imagem extraída de

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