terça-feira, 9 de outubro de 2007

Quando acontece

De repente nossos olhares se cruzam. Noto que seu sorriso um tanto discreto pede confirmação. Reparei rapidamente em seus olhos, encaracolados cabelos, pele queimada, pouca maquiagem, brincos e cordão daqueles feitos por hippies, blusinha leve e estampada moldando os pequenos seios, saia, tattoo no tornozelo, sandália rasteira. Sorri. Pego minha bebida e vou em sua direção. Bebemos a mesma cerveja, percebo seu cigarro. Posso, disse. Claro, é a resposta. Sento e começamos a nos descobrir. Concentro-me no som aveludado que aquela boca de lábios levemente carnudos emite. Na transcendência de sua voz e no olhar penetrante que me encara docemente, viajo. O bar está bastante movimentado como acontece em uma noite de sexta-feira, pessoas empolgadas, música alta, contudo, ouço apenas um ruído longínquo, indefinido e escuto apenas aquela voz. As cumplicidades começam a surgir, teatro – ela estuda teatro –, cinema, mapa astral, música, literatura, pintura, estrada, sonhos. Soltamo-nos, abrimo-nos. Os sorrisos tornam-se mais intensos, singelos e doces. Você tem um baseado, sim, vamos fumar, vamos. O toque. O desejo. Conta encerrada, saímos. Na rua a infinitude do beijo ardente, mãos ágeis, certeiras desvendam os corpos espremidos. Minha casa é aqui perto, partimos. Beto Guedes rolando, incenso no ar, baseado queimando, corpos acesos. Carícias agressivamente ternas, pungentes, despimo-nos. Penetro-a com voracidade, frenéticos mexemo-nos, devoramo-nos. O pompoarismo me alucina, enquanto me arranha solto tapas viscerais e ela pede mais e mais e mais. Até que desabo, saio de dentro dela, deito ao seu lado, encolho-me e choro desesperadamente. O que houve, ignoro a pergunta. Ela insiste e permaneço sem respondê-la. Choro ainda mais. Ela se aflige, quer me abraçar, não deixo. Grito para ir embora. Enrosco-me nos lençóis. Fetal, aperto-me. Não escuto mais sua voz. O vazio. A porta bate. Continuo chorando. Durmo.

Riso - 09 de outubro de 2007.

Nenhum comentário: